
HISTÓRIA DA EPT NO BRASIL: OBRAS QUE EMBASARAM NOSSO ESTUDO
18 de agosto de 2025
A COMISSÃO BRASILEIRO-AMERICANA DE ENSINO INDUSTRIAL (CBAI)
18 de agosto de 2025Segundo Oliveira (2006), em 1809 foram criadas, oficialmente, as duas primeiras Cadeiras Públicas das Línguas Francesa e Inglesa no Brasil. Entretanto, há indícios de que o início do ensino dessas línguas no país já tenha acontecido muitos anos antes. Por volta de 1722, houve a reforma dos Estudos Maiores em Portugal, a partir da qual as línguas francesa e inglesa passaram a ser matérias recomendadas pelos estatutos da Universidade de Coimbra para o ingresso nos cursos Médico e Matemático. Tal reforma, provavelmente, fez com que os filhos de famílias ricas brasileiras tenham frequentado aulas de inglês e francês, muito antes de 1809, mesmo que de forma assistemática e sem registros oficiais.
Oficialmente, a partir de 1809, já tendo o Brasil a sede da Coroa portuguesa – com a fuga da família real para América devido à invasão napoleônica – o ensino da língua inglesa, como também de outras línguas vivas (termo usado na época, em contraposição às línguas mortas, em especial o latim), esteve intimamente ligado à Instrução Militar. Os principais autores das ciências militares naquela época escreviam principalmente em francês e inglês, suas línguas maternas. Assim, para ensinar militares sobre as Ciências Exatas e de Observação, em decreto de 30 de maio de 1809, foi nomeado Lente da Cadeira de Língua Inglesa na Academia Militar da Corte no Rio de Janeiro, Eduardo Thomaz Colville, marcando a institucionalização do ensino da língua inglesa no Brasil. Paralelamente à Instrução Militar, meses depois, no mesmo ano de 1809, em 9 de setembro, era nomeado Professor Público de Inglês da cidade do Rio de Janeiro o padre irlandês John Joyce, que permaneceu no cargo até por volta de 1823, quando quem já o substituía era Guilherme Paulo Tilbury. Os cargos públicos de professores de inglês eram justificados na Carta Régia que os instaurava pela “difusão e riqueza e o número de assuntos escritos nesta língua, a mesma convinha ao incremento e à prosperidade da instrução pública” (OLIVEIRA, 2006, p. 88).
Na prática, as chamadas Cadeiras Públicas (como a de inglês) atendiam à necessidade que tinha o governo de preparar candidatos para os Estudos Maiores, ou superiores, como as carreiras médica, comercial ou militar, por meio dos chamados Exames de Preparatórios. Uma das atribuições do professor público nessa época era produzir seu próprio livro para usar em suas aulas. O prefácio do livro de Tilbury nos mostra o viés com que se implementava o ensino de inglês no período joanino:
Tílbury justifica o estudo da Língua Inglesa pela sua utilidade em várias profissões: no comércio, sendo os ingleses “os Freguezes principaes do Brasil”; na política, enquanto o Reino Unido mantivesse a superioridade marítima; na Filosofia Moral, em que ela poderia oferecer aos filósofos e “Facultativos” “Thesouros preciosissimos”; e mesmo na Teologia, “nas obras de hum Leland, [ilegível], e de um Paley”. Mas a sua utilidade maior parece residir no fato de que os autores ingleses serviam de “antidotos” contra a Filosofia francesa, “que já entre nós tem ameaçado ao Altar e ao Throno” (Tilbury, 1827: iv). A partir de então, o autor passa a defender a preferência do estudo da Língua Inglesa em relação ao Francês, para o que usa de argumentos nem sempre convincentes, como o de que apenas um ou dois dos revolucionários que haviam perturbado a paz do país sabiam o Inglês (OLIVEIRA, 2006, p. 90).
Outro indício do ensino de línguas estrangeiras no país reside nos anos posteriores à abertura dos portos brasileiros às “nações amigas” (sobretudo ao comércio britânico) quando da mudança da sede da Coroa portuguesa para o Brasil em 1808. Houve a nomeação por meio de decretos de D. João VI de professores das línguas francesa e inglesa para cursos de Comércio, bem como de intérpretes oficiais de línguas estrangeiras para atuarem, principalmente, quando da visitação de navios estrangeiros em portos brasileiros. Naturalmente, essa nova era elevava o território brasileiro a um patamar de influências estrangeiras e trocas culturais, que faziam aparecer em cidades como Rio de Janeiro e Recife anúncios em jornais de professoras e professores ingleses ou de língua inglesa.
Portanto, o ensino das chamadas línguas vivas nessa época estava ligado ora pela necessidade de acesso às publicações originais das ciências modernas, em sua maioria em francês e inglês (evidenciando a finalidade instrumental), ora pelas trocas comerciais, sobretudo com os britânicos, que precisaram ampliar seu mercado, em face do bloqueio continental promovido pela França para produtos do Reino Unido (evidenciando o caráter utilitário da língua). Destaca-se também que o ensino da língua inglesa (como também da língua francesa) foi-se estabelecendo nos Colégios de Instrução Secundária e Seminários ao longo de todo o território nacional, consolidando-se no período joanino e expandindo no Brasil Império, com o mesmo propósito de apresentar à mocidade que ia se habituando ao “som vocal deste idioma, entrelaçados que estavam os brasileiros em negociações com o Reino Unido. O conhecimento do Inglês, além de ser útil ao comércio e ao ‘tráfico civil’, serviria também para a leitura de livros de todos os gêneros: ‘scientificos, moraes’, e de Educação polida” (OLIVEIRA, 2006, p. 102). Casimiro (2005) indica que, especificamente como disciplina escolar, com professores, horário e local determinados nas estruturas curriculares, a língua inglesa surgiu em 1838, no Programa de Ensino do Colégio Pedro II .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CASIMIRO, Glauce Soares. A língua inglesa no Brasil: contribuições para a história das disciplinas escolares. Campo Grande: Ed. UNIDERP, 2005.
OLIVEIRA, Luis Eduardo Meneses de. A Instituição do Ensino de Línguas Vivas no Brasil: o caso da língua inglesa (1809-1890). 2006. Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2006.